quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 30

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 6

TENSÃO

Pág 30


- Quantos minutos faltam?

- Faltam dez minutos. Tudo em ordem.

- Onde está Lúcia Garbo?

Todos estavam um pouco tensos, com a expectativa daqueles poucos minutos que antecediam ao espetáculo. Mas ninguém sabia ao certo. Alguém disse:

- Deve estar no camarim dela, terminando de colocar a roupa.

- Quem pode apressá-la? - indagou Bulotto, um pouco de tensão na voz.

- Eu chamo! - gritou a jovem Simone.

- Enfiou-se rapidamente pelos corredores que iam desembocar nos camarins. Já estava de noite. Mas ainda não estavam acesas as luzes dos corredores. Os corredores estavam escuros e densos. A jovem Simone sentiu-se como se estivesse, a cada vez mais, mergulhando em um mar de escuridão. Putsgrilo. Nunca reparara antes como aqueles corredores eram escuros e traiçoeiros. Esbarrou duas ou três vezes nas paredes frias, saiu palpando, com medo de encostar em algo, que não sabia o quê, a garganta seca, porque estava muito próximo da hora do espetáculo começar. Finalmente, como uma ilha nas trevas, avistou as luzes acesas e a porta completamente aberta do camarim de Lúcia Garbo.

Entrou. A porta do toalete ao fundo estava fechada, mas o interior do camarote de Lúcia Garbo estava vazio. A cama improvisada estava desfeita. Os demais objetos nos lugares de antes. Parou no centro do camarim, sentindo um desconforto estranho. Onde estaria Lúcia Garbo?

Foi então que, num estremecimento súbito de pavor, reparou na trilha formada por pequeninas gotas de sangue, ainda fresco, convergindo enfileiradas na direção do toalete.

No primeiro momento, suas pernas bambearam, seus olhos se arregalaram, e controlou a custo um grito de pânico.



Pág 30

domingo, 12 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 29

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio


ZMF Editora
1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 6

TENSÃO

Pág 29


- Ora bolas. Ponha "cravar os dentes". Fica muito mais elegante.

- Então, vamos, que já está ficando tarde.

- Cena oito, terceiro ato..., repetindo: " não há maneira nenhuma de você escapar de mim. Hei de cravar-lhe..., que tal?...hei de cravar-lhe os dentes, senhorita Ponce."

A jovem Simone remexeu-se um pouco na sua posição de ioga, e olhou de relance para o miúdo rasgo de céu.

- Ótimo. Que horas são?

- Dez para as cinco. Vamos à cena dez agora?

- Você entra agora, bebêzinho. O seu enxerto é um enxertozinho de nada.

- Perdão - falou a jovem Simone, estremecendo - estava falando comigo?

- Putsgrilo. Eu não falei...que hoje está todo o mundo parecendo zumbis?

A jovem Simone estremeceu de novo. Meia hora depois, terminaram de repassar todos os enxertos. Bulotto reuniu todo o Grupo no centro do palco e começou a transmitir-lhe instruções. Adorava falar, e, ficou tão embevecido falando, que, dentro de mais algum tempo, por detrás das cortinas fechadas, observaram as grandes luzes do enorme teatro serem acesas. E ouviram o som do público que começava a entrar.

- Putsgrilo. A galera chegou. Não deu para eu falar nem a metade do que eu tinha para falar a vocês.

- Para o inferno, Bulotto. Você pensa que a gente é de ferro?

- Olhe...apagaram a luz do palco, para a galera entrar. Agora vamos dar o fora daqui mesmo.

Saíram, em meio a penumbra, e foram ocupando seus postos detrás da coxia. Bulotto disse:


Pág 29

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 28

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 6

TENSÃO

Pág 28



- Hoje a noite vai ser de lua cheia - disse Bulotto, olhando do palco pela fresta de uma janelinha lateral existente naquele ponto da imensa abóboda superior do enorme recinto.

- Quem eu amor vem me ver - brincou Sonia Álvares. Bulotto deu um suspiro.

Sonia Álvares recolocou a cartola.

Júlia Araujo olhou de relance para o rasgo de céu.

Sonia Álvares entrou em cena e disse: "senhoras e senhores..."

A jovem Simone sentou-se no chão para assistir à cena, e remexeu a cintura um pouco inquietamente . Depois procurou acompanhar a evolução dos diálogos através do texto completo que tinha às mãos.

Nunca aguardara com tal ansiedade a sua vez de entrar.

Bulotto cortou mais adiante a cena, após um par de repetições. Depois disse:

- Agora aquela cena engraçada que o Ernesto improvisou.

- Ah, sim - falou o Ernesto. - Eu disse: "hei de pôr-lhe os dentes em cima, senhorita Ponce..."

- Não. Você disse: "hei de cravar-lhe os dentes".

- "Pôr-lhe os dentes" ninguém vai entender. Fica quadrado.

- Mas entenderam e riram da primeira vez, com os gestos que fiz.



Pág 28

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 27

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 27

E, quando ficou completamente sozinha no camarim enorme, a estrela voltou o rosto na direção da parede, e, completamente entregue ao desalento, deu de ombros, enxugou uma lágrima, e...ficou à espera de sua hora chegar...


***

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 26

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 26


...de narradora da peça, e trazia a cartola presa pela aba no cinto que tinha à cintura.
Lúcia Garbo trocou um olhar significativo com a jovem Simone para que esta interrompesse a conversa que estavam tendo. A jovem Simone compreendeu que ela não queria de forma alguma preocupar os seus amigos do peito, sobretudo agora, que estavam próximos da hora de iniciar o espetáculo.
- Oi amigos e amigas - disse-lhes a jovem Simone.
- Oi, bebezinho - replicou-lhe Bulotto, o lider do Grupo, com um sorriso irônico. - Julgamos que não viera. Já íamos mandar o ônibus do Jardim de Infância para apanhá-la em casa.
Bebezinho era o modo implicante com que ele tratava a jovem Simone.
- Pedi à Simone que me desse a opinião sobre o novo texto que pretendemos levar - disse Lúcia Garbo - Há um papel ali que tem tudo a ver com ela.
- Vamos ensaiar os enxertos? aparteou Aírton, que interpretava um dos papéis mais longos da peça. - Tenho quase dez frases novas para repassar. Vamos?
- Vá logo mudar de roupa, bebezinho - arrematou Bulotto. - Assim a gente já ganha tempo se por acaso passar da hora e o público chegar.
- Eu não vou trocar de roupa agora e nem vou ensaiar os enxertos - disse-lhes Lúcia Garbo - estou morrendo de dor de cabeça e vou ficar aqui deitada no camarim até a hora do espetáculo. Senão, não vou conseguir entrar na hora.
- Ok, Garbo - disse-lhe Bulotto com uma piscadela e um levantar de ombros. Também...ensaiar o quê? No seu papel você não gosta mesmo de mexer em nada, nunca.
- E estamos conversados - sorriu-lhes Lúcia Garbo, passando a mão pela testa e em seguida deitando-se a todo comprimento na cama superconfortável que havia no seu camarim.


Pág 26

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 25

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 25
- E...como é o seu pai?
- Meu pai, juro, nem parece um homem rico. É simples demais. Criou já inúmeros tipos de ajuda aos empregados dele.
- Mas... - sussurrou a jovem Simone.
- Mas...ainda assim ele é um homem enormemente rico.
- Será que o vampiro sabe disso? - consolou-a Simone.
- O danado do vampiro sabe de todas as coisas - sentenciou Lúcia Garbo.
- Puxa. E você, por sua vez, me parece uma super especialista em vampiros.
- Depois de dezoito casos terríveis...aliás, dezenove, com o de ontem à noite, a gente é capaz de até identificar um vampiro que surgir na nossa frente com uma batina de sacristão.
- E... - sugeriu de súbito a jovem Simone, estalando os dedos - e se você contratasse uns dois seguranças bem musculosos para acompanhá-la para toda a parte?
A grande estrela deu o mais longo suspiro do mundo.
- De vampiros você realmente não entende nada. Ontem, no palácio do governador, havia nada menos que uma guarnição inteira. E o vampiro zombou de todos eles e bebeu meio litro de sangue do pescoço da filha do governador.
- Meu Deus - estremeceu a jovem Simone. - eu nunca pensei que eu estivesse tão alienada.
Nesse exato momento, surgiram à porta os outros artistas. Vinham conversando animadamente, e foram entrando pelo camarim adentro sem a menor cerimônia. Já estavam todos de roupa trocada.
- Oi, Garbo - disse-lhe Sonia Álvares, ajeitando diante do espelho a gola dura da indumentária faiscante. Fazia o papel...
Pág 25

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 24

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 24


Num gesto superamistoso ensaiou um passo de dança com a companheira.
- E o terceiro requisito é a vítima ter um pai absurdamente rico.
Simome parou de dançar. Saltou-lhe davagarinho o braço. Recuou um ou dois passos. Disse:
- Mas...o seu pai...
- O meu pai é absurdamente rico - balbuciou Lúcia Garbo, sentando-se, e apoiando o rosto em uma das mãos, num gesto desconsolado.
A jovem Simone curvou-se sobre ela...
- Mas... - Murmurou lentamente - Os jornais todos que sempre li a seu respeito...
- ...dizem que eu comecei do nada - atalhou a estrela.
- Sim. Dizem exatamente isso.
- Os jornais sempre dizem o que lhes convêm. Ademais, os jornais e as revistas nunca poderiam saber mesmo. Eu fugi de casa quando tinha exatamente dez anos de idade para a casa de uma tia paupérrima, considerada meio lelé da cuca pelo resto da família. Imagine...era pobre somente porque queria, embora todos da família quisessem sempre ajudá-la. Ela amava gatos e me amou também. Foi ela quem me atirou para esta vida de sonho. Nunca mencionei nada aos jornalistas sobre os meus verdadeiros pais.
A jovem Simone sentou-se outra vez, também. Indagou-lhe:
- E...seus verdadeiros pais? Como são eles?
- São ótimos. tinham de hesitante apenas esse preconceito tolo, com relação à arte. Mas foram o suficiente generosos para nunca interferirem. Quando deu certo eles passaram a dar-me a maior força do mundo. Mas meu pai e eu achamos melhor que nunca divulgássemos que eu era filha de um industrial tão poderoso como ele é.


Pág 24

domingo, 5 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 23


O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora
1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 23

- Eu preencho todos os requisitos do que o vampiro procura. E ainda, para complicar, o meu nome, pelo fato de eu ser conhecida em todo esse bendito país, só faz chamar muitíssimo mais a atenção sobre mim. Se eu não der o fora imediatamente do país estou completamente liquidada.
- E você pensa em sair?
- Não.
Lúcia Garbo torceu as mãos nervosamente. A jovem Simone sentiu as lágrimas aflorarem-lhe ao rosto. Fungou uma ou duas vezes e depois, num impulso, correu a abraçar-se fortemente com a estrela. Apertou-a, com força nos braços. esfregou o nariz no ombro do vestido da companheira. Depois, ergueu-se junto a um de seus ouvidos, e indagou, com muito tato:
- E...quais são esses requisitos?
- Você não tem acompanhado os casos?
- Os requisitos são, pelo que entendi, em número de três. O primeiro deles...
- Sim?
- O primeiro deles - suspirou Lúcia Garbo - é ser-se filha ou filho único.
- Mas eu também sou filha única - confortou-a vivamente Simone.
- Espere. O segundo dos requisitos...
Fez uma pausa penosa. Depois disse:
- O segundo requisito é você ser adolescente.
- Não se esqueça que sou muito mais adolescente que você - gritou animadamente a jovem Simone. E meu Deus, há milhares e milhares de adolescentes por esse paisão afora. O vampiro vai ter de se estafar muito para encontrá-la!


Pág 23

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 22

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 22


- Você...o quê? - Indagou Simone arregalando os olhos.
- Serei uma das próximas...talvez até, quem sabe, a próxima vítima do vampiro - esboçou um sorriso forçado de frieza, a estrela.
- Você...está brincando - a jovem simone curvou o rosto na direção dela, e fez menção de sorrir também.
Lúcia Garbo meneou tristemente o rosto.
- Nunca falei mais sério em toda minha vida.
A jovem Simone pareceia ter levado um murro no centro da nuca. Ficou alguns momentos olhando para ela de modo imbecil. Depois, sorriu mesmo.
- Mas isso é um absurdo, Lúcia. Isso não tem sentido. Não tem qualquer relação isso com a realidade.
Lúcia Garbo deu de ombros. Ergueu-se lentamente, e pôs-se a andar de um lado para o outro do camarim. Mirou-se por um momento no espelho cravejado de luzes minúsculas. Depois, após um prolongado suspiro, disse:
- Eu tenho pensado incessantemente sobre esse pérfido assunto. E...a cada nova vítima, só consigo perceber as minhas chances aumentarem e aumentarem. Simone. Para falar a verdade, ainda não compreendo por que ainda não chegou a minha vez.
A jovem Simone deu uma olhada na manchete escandalosa do jornal (escrita em letras vermelhas). Sentiu um arrepio miserável no fundo do coração. Engoliu em seco. Murmurou:
- Mas..por quê? Por que. Lúcia?


Pág 22

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 21

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 4

LÚCIA GARBO

Pág 21


...Posso confiar que não contará nada jamais a ninguém?
A novata estremeceu novamente emocionada.
- Puxa...Lúcia Garbo. Claro que não contaria nada a niguém. Juro. Juro Por Deus. Acho que eu nem precisava jurar. Preferia morrer a trair o que lhe dissesse.
Lúcia Garbo respirou fundo. Então estendeu-lhe a página de jornal que estava lendo:
O sobressalto que eu tive...o pânico...quando voc~e entrou de surpresa...é por causa disso.
Simone leu e franziu a testa.
- O...vampiro? - exclamou de pronto. - Você está com medo...por causa...de um vampiro?
- Não é um medo tolo qualquer - replicou Lúcia Garbo.
- Sei que não. Mas...
- Quer saber, senhorita, a razão do meu medo?
- Sim.
- Eu tenho certeza, Simone, de que eu serei uma das suas próximas vítimas.


Pág 21
***

domingo, 28 de novembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 20

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 4

LÚCIA GARBO


Pág 20


...A jovem Simone sentiu uma vontade irresistível de sair correndo dali. Mas Lúcia Garbo fez um sinal superamistoso para que ela se sentasse.

A jovem Simone sentou-se obediente. Fez-se um silêncio algo constrangedor entre as duas. Então a jovem Simone murmurou tolamente:

- Juro que não queria atrapalhá-la...

- Não me atrapalhou. - Lúcia Garbo abriu um lindo sorriso em sua direção, e estendeu-lhe a mão direita com carinho. Apertou com ternura demoradamente a sua mão e lhe soprou: - Você é uma das nossas, Simone. Você, ao entrar para o nosso Grupo, tornou-se parte do meu mundo. Eu a amo muito por isso. Não me atrapalha jamais...

A novata sentiu-se um aperto à garganta:

- Posso...ajudá-la, Lúcia? Por favor...posso ajudá-la?

- Sim. Pode.

A novata estremeceu. Era extremamente inteligente e percebeu que Lúcia Garbo ia fazer-lhe confidências.

- Talvez você nem ninguém me possa ajudar. Mas eu estou terrivelmente necessitada de desabafar com alguém.

Mediu a novata com um olhar. Então pensou: podia sim, desabafar com ela. Ela é uma das nossas, agora. Não é uma pessoa qualquer. Deve pensar um pouco parecido comigo. E então poderá me compreender.

Além do mais uma novata de extraordinário talento. Embora tivesse tão somente quatorze anos de idade vencera um desafio colossal ao suplantar mil concorrentes à única vaga aberta do Grupo. Sabe Deus por quanto tempo vinha se preparando em busca de uma oportunidade desse quilate.

Passou a mão direita pelos cabelos da novata Simone. Olhou-a no rosto. Disse-lhe:

- Preciso hoje desesperadamente desabafar com uma pessoa de minha confiança, e a sós. Não quero que ninguém mais do mundo saiba disso...



Pág 20

sábado, 27 de novembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 19

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 4

LÚCIA GARBO

Pág 19
Mas agora sentia uma vibração nova circulando por ali, com a presença da companheira. Será que Lúcia Garbo percebera a satisfação que ela fora a primeira do Grupo a chegar? Será que a notara seriamente embevecida com o seu trabalho? Puxa. Como admirava aquela atriz célebre. A jovem Simone foi ficando tão enrodilhada no seu fascínio pela veterana e, ao cabo de alguns instantes mais percebeu que não estava mais conseguindo concentrar-se no que fazia.
Nunca estivera sozinha, em parte alguma, com Lúcia Garbo. Mas agora ambas estavam provisoriamente a sós naquele teatro enorme. Pensou em ir até ela no camarim, para tentar puxar algum assunto qualquer com ela. Embeveceu-se tanto com essa idéia singela e, assim, por mais um minuto ou dois de tentação, ainda resistiu. Depois, largou as páginas do texto ali mesmo no chão do palco, e dirigiu-se ao camarim da estrela.
- Lúcia... - disse timidamente, introduzindo a metade do rosto no interior do camarim. Lúcia Garbo estava tão completamente distraída, lendo alguma coisa, e nem sequer a notou. Estava sentada em uma cadeira giratória, e trazia uma das mãos no rosto. E foi então que Simone deu-se conta de que Lúcia Garbo estava chorando.
Aquilo angustiou-a, e ia afastar-se, temendo ser indiscreta, mas, de súbito, Lúcia Garbo voltou-se num relance em sua direção, antes que ela sumisse dali. Estremeceu toda, e a jovem Simone pôde ver com desconforto ela dar um pulo da cadeira e emitir um grito surdo de sobressalto.
- Lúcia...perdoe-me - gemeu a jovem Simone, sentindo-se de repente péssima - eu...assustei-a? Eu, meu Deus...eu não pretendia. Devia ter batido à porta. Que idiota. Mas já estou saindo...adeus.
- Não, fique - disse-lhe Lúcia Garbo com um sorriso, para desfazer-lhe o embaraço. Enxugou disfarçadamente as lágrimas do rosto...
Pág 19

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 18

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 4

LÚCIA GARBO

Pág 18


...da peça, e o público havia se manisfetado com boas gargalhadas de aprovação. Depois de praticamente três anos em cartaz com uma mesma peça de sucesso, vez por outra eles sentiam necessidade disso, de molequemente escamotearem uma ou outra frase original do texto, e darem um colorido novo, "lubrificarem o roteiro um pouco", como diziam eles.

Naquela tarde de domingo, por volta das três horas da tarde, Lúcia Garbo estacionou o seu automóvel nas proximidades do teatro. Saltou rapidamente, com a fisionomia tensa, e procurou esgueirar-se o mais rápido que pôde para o interior do teatro. Assim mesmo, teve de dar cerca de meia dúzia de autógrafos antes de conseguir entrar.

Ia entrar no seu camarim, mas, de súbito, resolveu primeiro dar uma olhadela no palco, para ver se já chegara alguém. Ela estava muito hesitante e confusa naquela tarde.

Por detrás da coxia constatou que as luzes do palco estavam acesas. Espiou, e viu a novata Simone. As cortinas estavam fechadas e, Simone, sentada no chão em posição de ioga, entretinha-se em repassar os seus textos.

- Oi, Simone - disse-lhe Lúcia Garbo, com um suspiro.

A novata olhou na direção dela, e experimentou um arrepio de felicidade na alma. Era a primeira vez que, fora dos assuntos do texto, a grande estrela falava diretamente com ela.

Pôs-se de pé com um sorriso radioso.

- Oi, Lúcia...puxa, como você chegou cedo hoje.

- É - suspirou de novo Lúcia Garbo. Dizendo isso, fez um leve comprimento de cabeça, e retrocedeu na direção do seu camarim.

Simone ajeitou-se, suspirou desapontada, e voltou a compenetrar-se em seus textos.


Pág 18

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 17

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio


ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 4
LÚCIA GARBO

Pág 17


Dentre todas as atrizes do país, a mais famosa, a mais talentosa e bonita, era sem dúvida Lúcia Garbo. Iniciara a carreira no teatro ainda muitíssimo jovem e, desde a sua precoce estréia, já causara sensação. Agora estava com vinte e um anos de idade - e mais de dez de carreira - e cada vez parecia que se ia aperfeiçoando mais. Seus shows ao vivo atraíam centenas de pessoas para vê-la. Seus filmes, milhares. Suas novelas de Tevê, certamente milhões.

Mas, sua menina-dos-olhos, a sua paixão irrestrita, era sem dúvida o teatro. Fora lá que dera os primeiros passoa na carreira. Fora lá que sonhara e realizara os seus primeiros sonhos. Hoje, não trocaria nada neste mundo pelas luzes do palco.

Ela fazia ainda parte de um Grupo, um mesmo Grupo que iniciara carreira há muitos anos atrás, e, por um desses caprichos da vida, ainda não se desfizera. Alguns dos membros tinham bem mais idade do que ela, um ou outro era mais jovem, mas, todos eles eram atração nacional nos outros campos da representação, que não o teatro. No teatro, o Grupo de Lúcia Garbo sustentava há quase exatamente três anos consecutivos uma mesma peça num enorme teatro da cidade, com recorde de público. O nome da peça era "O parto da adolescência."

Naquela tarde de domingo, o espetáculo iniciar-se-ia mais cedo, exatamente às dezoito horas, mas os atores e atrizes haviam combinado de chegar algumas horas antes para aperfeiçoar ligeiramente umas pequeninas modificações que haviam introduzido no decorrer da semana anterior no script...


Pág 17

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 16

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 3

A CIDADE

Pág 16


...o par de patins Jovem-Chic. E, nesse caso, não importa quem - ricos ou miseráveis - seríamos capazes de por um momento assaltarmos uma velhinha indefesa para os nossos pobres guris frustrados não nos olharem assim, com os seus olhos carentes e enormes, de uma forma tão envergonhada de nós.

Era essa ligeira visão da cidade, forasteiro, que, em pequenas pinceladas, lhe pretendia mostrar. Para que, se algo que aconteça lhe parecer um nada fantasioso, você, tendo em vista o relatado, apenas boceje e não se surpreenda mais.

Dito isto, retornemos mais uma vez ao palácio do governo onde nossa história se desenrola nesse momento.

Deixamos, como vimos, o comandante de guarda daquela noite, coronel Caio César, deixando o gabinete do governador com a incumbência rigorosa de colocar três soldados de guerra à porta do quarto de uma jovem adolescente. E o coronel assim o fez.

Mas, num ponto daquela noite, algo de verdadeiramente inusitado aconteceu. O palácio inteiro foi despertado pelo som de tiros de metralhadora. E o alarme soou por todos os cantos.

Encontraram a porta entreaberta. Espiaram com cautela para dentro e...recuaram estarrecidos.

Atirada no leito, e muito pálida, e sem sentidos, estava a jovem filha do governador. Trazia a marca profunda de dois dentes caninos cravados no pescoço.

Ao redor, caídos, os três soldados, ainda com as armas inseparáveis nas mãos. E com a garganta completamente dilacerada.


Pág 16

terça-feira, 23 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 15




O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio


ZMF Editora


1º Edição


PRIMEIRA PARTE


PAVOR E ÊXTASE


CAPÍTULO 3


A CIDADE


Pág 15

..., as armas dos policiais de verdade. Seria o caos, dizem muitos, um confronto deles com essas armas com os representantes da lei. Mas eles, por tática - dizem também alguns - não o fazem de forma sistemática. Teria um efeito negativo no ramo de venda de narcóticos, as vendas cairiam sobremaneira no período, dizem ainda mais outros. Chocaria a opinião pública. E o exército também provavelmente haveria que intervir, se se chegasse a ousar o confronto de frente. Age-se com discrição, pois.

Continuemos a caminhada. E, por toda parte, encontramos as duas faces de uma mesma moeda. Do lado dos da rua, a iniciativa e, não raro, a criatividade e a justiça pelas próprias mãos. Do lado dos que se aprisionam detrás de grades de ferro altíssimas, guarnecidas muitas vezes por vigilantes armados, o medo e a fronte molhada de suor.

E o único ele pacífico, o único denominador comum entre esses dois mundos, o da rua e o das casas e dos apartamentos trancados a sete chaves, é um terceiro mundo - de fantasia: o da televisão. O humilhadíssimo aposentado, o menor da sarjeta, o menino rico do portão de aço e arame farpado, o pedinte universitário, o industrial que morre de pânico de caminhar sem escolta, a prostituta esquálida e desnutrida que aposta a vida a cada dia e a cada vez que transa...todos eles inebriam-se e curvam-se hipnotizados diante do devaneio fantástico da tela. Todos inebriam-se com ela, porque todos os valores da vida são passados a limpo é justamente ali. Exatamente ali. E se acaso a garota-propaganda acende diante de nossos pobres olhos um cachimbo de espirais de ouro, todos os mortais que não fumam experimentam na alma a nostalgia dos haréns. E, se outra ninfa diz: "o quê? Você ainda não comprou o seu par de patins Jovem-Chic?" Cada um de nós sente desabar sobre nossas cabeças o céu e o estigma das humilhações seculares...se acaso ainda temos....

Pág 15

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 14

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio


ZMF Editora


1º Edição


PRIMEIRA PARTE


PAVOR E ÊXTASE


CAPÍTULO 3


A CIDADE


Pág 14


...falam - a cada pegada que encontramos - do orgulho irredutível dos que ergueram do nada o apogeu de um Império.

Caminhemos, pois, a pé. Da cidade que lhe falo, os primeiros indícios que encontramos, ao longo mais obscuro de cada esquina, são fezes. Fezes eliminadas soturnamente durante a noite pelos que têm como teto as estrelas, e habitam o meio das ruas. Praticamente ao longo da maior parte das esquinas encontramos fezes pela manhã. E, pelo aspecto e consistência das fezes podemos constatar o quanto doente estão as pessoas que habitam as ruas. Mais adiante, forasteiro, há um menino de dois anos de idade sentado numa calçada. E - cena surrealista - tem no colo um menino de seis meses de idade. Pede esmola para o mais pequeno. Na quadra seguinte há um velho viaduto . Debaixo do velho viaduto, centenas de pessoas esfaimadas construiram suas casinholas com madeiras toscas surrupiadas das feiras, ou encontradas ao acaso. Há uma verdadeira comunidade instalada ali. Há até mesmo uma escola particular feita de madeira podre um pouquinho melhor. Hoje é dia de festa na escola, está escrito em spray num grande quadro na porta: "estamos comemorando o nosso terceiro aniversário. Obrigado a você que nos prestigiou". E escrito sem um erro de gramática. Absurdo? Forasteiro, forasteiro, você ainda não viu nada.

Logo adiante há os primeiros indícios de que nós, por descuido, nos aproximamos em demasia de alguns dos sem número de morros famosos. Por quê? Já vejo homens discretamente postados pelas imediações patrulhando algum ponto do território delimitado. Alguns deles trazem consigo de forma quase camuflada , um exemplar da última geração de armas manuais de guerra inventadas pelo mundo. Não são policiais, como seria lógico parecer. São guardiões de pontos de tóxicos. As armas que possuem, por fantasioso que possa parecer, superam em modernidade e (nem se fala) em munição...


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domingo, 21 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 13

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 3

A CIDADE

Pág 13


Para que esta história não se lhe afigure em demasia fantasiosa, amigo leitor, talvez prudente o fosse que aceitasse o meu singelo convite para percorrermos algumas quadras juntos, desta cidade de lenda onde, segundo dizem ao pé do fogo os velhos anciões, a totalidade desses fatos realmente sucedeu-se.

Tomemos inicialmente o metrô. Ou...talvez você preferisse que nos deslocássemos em um ônibus, para podermos apreciar algo mais que os subterrâneos da cidade. Acontece que - embora sobrem lugares vazios nos ônibus, não é sensato que nos arrisquemos a entrar em um. O índice de assaltos é tão avassalador, que o trânsito coletivo da cidade praticamente transferiu-se para o subsolo, onde pelo menos a geografia de natureza fechada, e os longos degraus indispensáveis de serem vencidos em um trabalho bem feito, desencorajam um pouco os indolentes amigos do alheio.

Muito, muitíssimo, melancolicamente cheio cada carro do metrô? Mal dá para entrarmos em um? Vamos a pé, pois. Talvez seja melhor mesmo, ó ilustre forasteiro! Tenho hoje uma história para contar-lhe. Acontece que na terra dos homens, com frequência, o terreno onde os seres florescem dita-lhes no mais das vezes o caráter das raízes. Não quero responsabilizar ou isentar ninguém por isso, por essas palavras. Além disso, há seres a quem a vida quebra todos, e eles se mantém na essência inquebrantáveis. Há seres de todo o tipo. Mas, uma caminhada a pé por uma cidade de fantasia, pode nos explicar um pouco o temperamento de seus habitantes, assim como as ruínas das velhas cidades romanas nos...


Pág 13

sábado, 20 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 12

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 2

O Governador

Pág 12

...Mas pôs-se de pé de forma dramática, procurando reabilitar-se,e replicou:
- Mas o senhor acredita mesmo, senhor governador, nessa tal história de vampiros?
- Quando se passa para o grupo de risco do que quer que seja - filosofou o governador - pouca importância tem se a gente acredita em algo ou não. Já houve dezoito casos. eu quero, a partir desta noite, três soldados ferozes, armado até os dentes, montando guarda na porta do quarto da minha filha. Entendeu bem, coronel Caio Célio?
- Sim...sim... - entendi - exclamou o coronel da forma mais enérgica que pôde.
Recolou o quépi, fez uma breve continência para o governador, e voltou-lhe as costas, dirigindo-se em firmes passadas para a porta.
À porta, a voz do governador fê-lo retroceder um momento. O governador ressaltou-lhe:
- Olhe...mas não quero nenhum soldadinho morto-de-fome à porta do quarto de minha filha. Para este serviço, faço questão de três dos valentes da penitenciária Martines.

***
Pág 12

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 11

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 2

O Governador

Pág 11
O coronel refletiu intimamente que o assunto favorito de todos os jornais nos últimos dois meses...era certamente...o vampiro.
Mas receou dizer em voz alta e expor-se ao ridículo.
- É...a dívida do FMI?
O governador emitiu um enorme suspiro de desalento:
- Constato que o senhor não lê jornais há pelos menos dois meses, prezado coronel. Mas o senhor não tem lido nem as páginas policias?
- É o tempo, senhor governador. Não me tem sobrado tempo para nada nesses últimos tempos, disse teimosamente o coronel.
O governador desistiu de jogar. Entrou direto no assunto. E disse, de sopetão:
- O assunto favorito de todos os jornais tem sido o misterioso vampiro, caro coronel. Saiba em primeira mão que há um vampiro à solta nas ruas da cidade. E que nas noites de lua cheia ele invade as residências mas inacessíveis de pessoas de posses, e crava os dois dentes caninos no pescoço de um filho ou de uma filha única. Entendeu? Um filho ou uma filha única adolescente.
O coronel Caio piscou duas vezes, completamente apanhado de surpresa. O governador ressaltou bem e pela segunda vez as seguintes palavras:
- E eu sou um homem muito rico e tenho uma filha única adolescente. Dá para entender agora, prezado coronel Caio Célio...o porquê de ter passado por cima de uma porção de críticas e tê-lo trazido para chefiar a minha guarda pessoal do palácio?
- Dá...sim...dá - murmurou o coronel Caio, que não sabia se sentia lisonjeado ou um perfeito imbecil.
Pág 11

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 10


O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição


PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 2

O Governador

Pág 10

...governador, prestes a entrar no assunto, começava a aparecer ficar muito nervoso.
Por fim, parou um momento diante do coronel, esticou um dedo apontado em sua direção e disse-lhe:
- Coronel Caio...nesses últimos dois meses tem acontecido coisas muito estranhas nesta pacata cidade.
A voz do governador estava hesitante e algo tensa.
O coronel Caio franziu a testa, um pouco sem entender.
- Coisas muito estranhas, prezado coronel Caio - o governador procurou ressaltar com força mais uma vez. - O senhor pode me entender?
- Confesso que não - esboçou um leve sorriso o coronel.
O governador parecia pouco à vontade para entrar diretamente no assunto. Procurava, pois, falar por tabela.
- O senhor não tem ouvido nada pela cidade? Não tem lido nada?
O coronel Caio encostou-se à cadeira e remexeu-se depois com um ar terrivelmente frustrado.
- Senhor governador...eu...eu...
- Vou ser mais claro, coronel. Eu quero lhe dizer que eu sou um homem mais ou menos rico e que tenho uma filha única e adolescente.
O coronel Caio engoliu em seco e pela primeira vez na vida sentiu-se afundar num redemoinho de frustrações: não estava entendendo nada do que o seu superior hierárquico lhe pretendia dizer.
- Senhor governador...eu...sabe...
- Vou ser ainda mais claro, coronel Caio - o governador sentou-se e curvou-se misteriosamente na direção do coronel - qual é que tem sido o assunto favorito de todos os jornais nos últimos dois meses?

Pág. 10

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 9


O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição


PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 2

O Governador

Pág 9

Eles fazem um barulho tão grande que até derrubam a gente. Mas, fique tranquilo que já está tudo esfriando de novo. O senhor já recebeu até de volta a maior parte dos seus soldados daquele dia. Não é verdade?
- E trouxe-os comigo...conforme o senhor me solicitou. E acho que o senhor tem toda a razão. Eu mesmo, confesso que gosto de ter esses rapazes por perto. Não titubeiam em serviço. Mostram que estão ali para agir nos momentos precisos.
- O coronel está com toda a razão do mundo. Eu acho muito engraçado é essa população viver protestando que a cidade está atulhada de marginais, e então, se acaso um homem como o senhor, no cumprimento do dever, manda algumas dezenas deles mais cedo para o inferno, vêm essas enxurradas de protestos em sentido contrário. As pessoas nunca estão satisfeitas.
- E eu acho até que elas protestam só por protestar, senhor governador. Sem qualquer sinceridade. E se o senhor der uma coisa a elas, elas pedem logo o oposto disso.
- Pedem mesmo. Não viu eles reclamarem que os marginais não tinham com eles nem uma só arma de fogo? O que é que esses jornalistas queriam? Na certa queriam que a gente passasse a distribuir armas de fogo nos presídios para os pobres bandidos carentes. Durma-se com um barulho desses!
- O senhor é dos meus, senhor governador - disse-lhe com ênfase o coronel Caio.
Dito isto, calou-se, e ficou à espera das instruções que o governador certamente lhe iria passar, relativas a sua presença na chefia da guarda do palácio.
O governador pôs-se a andar de um lado para o outro da sua faixa delimitada pela escrivaninha. As duas mãos entrelaçadas atrás, nas costas. E o coronel Caio pôde notar que o...

Pág 9

terça-feira, 9 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 8



O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição


PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 2

O Governador

Pág 8

- Comandante Caio Célio, o senhor governador o espera.
O coronel ergueu-se vivamente, e o seu subcomandante disse-lhe:
- Espero-o aqui, coronel.
- Está bem - disse o coronel.
Ajeitou-se com esmero o uniforme , passou a mão pelos cabelos, e recolocou novamente o quépi. Em seguida entrou no gabinete do governador.
- Seja bem-vindo, coronel Caio _ saudou-o o governador , pondo-se de pé, e ajeitando ele próprio uma cadeira para o outro sentar-se. - Não imagina por quanto tempo tempo que vinha tentando trazê-lo para a guarda do palácio.
O coronel apertou-lhe a mão e sorriu modestamente.
- Eu também esperava por isso há muito tempo. Quase vim há três meses. Mas aí houve aquela terrível perseguição sobre a minha pessoa por causa do episódio Martines, senhor governador. Não vim por isso.
- Um desaforo, aquilo - o governador replicou-lhe, indignado - Eu diria mais: um desacato a uma autoridade do seu porte. eu quero que saiba que eu não aprovei pessoalmente nem um pouco o seu afastamento.
- Eu sei, senhor governador. O senhor tem outra cabeça. Mais lúcida. Mas o senhor sabe como é. Disseram-me que foi coisa de estrangeiros. Disseram-me que é porque estava havendo uma pressão internacional muito grande, que tinham que me manter dois ou três meses longe das tropas. Mas o senhor sabe que eu não entendo por que é que esses estrangeiros se metem tanto? Não sabem nada da nossa realidade.
- São essas tais organizações de direitos humanos. Por isso é que eu tive que concordar com seu afastamento provisório, e mais o afastamento de todos os seus comandados que entraram naquele dia no presídio Martines. Caso contrário,

Pág 8

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 7



O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição


PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 2

O Governador

Pág. 7

Ergueu-se, guardou serenamente todos os papéis em uma pasta de couro, e cumprimentando com a cabeça novamente os dois militares seguiu na direcção da porta aberta.
Entrou, e já saudou de longe ao governador, que estava sentado na outra extremidade da sala, detrás de uma mesa enorme.
Ele próprio fechou a porta quando entrou.
- Como está, L.D.? - disse-lhe o governador.
Ele foi sentar-se ofegante em uma cadeira próxima da cadeira do governador. Nem aguardou que o governador o convidasse.
- Passei só para uns últimos detalhes sobre a remessa de fundos do Banco do Estado para o exterior. Ainda tenho que ir em dois lugares agora. É só uns detalhes à toa.
- Está bom. - o governador sorriu - já fechou o negócio?
- Vou fechar ainda hoje. Precisamos só discutir uma cláusula de nada. Aí o negócio sai. E...boca de siri, o que vai entrar de grana...
- Está bom. Vamos aos detalhes...
- Olhe aqui...
Abriu novamente a pasta de couro, e retirou os papéis que estivera examinando há instantes. Exibiu-os ao governador, e leu-lhe uma ou duas frases em voz alta. Nos dez minutos seguintes ambos iriam estar discutindo o tal problema até que, por fim, chegassem a um denominador comum. Foi o que houve. Tão esbaforido como quando chegou, o cavalheiro de têmporas suadas guardou os seus papéis e saiu. Cumprimentou pela terceira vez os dois militares da ante-sala, e desta feita dirigiu-se para o elevador comum. Os dois militares seguiram-no discretamente com o olhar.
Um minuto depois, a voz amável do mesmo assessor disse:

Pág. 7