sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O VAMPIRO A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES PÁG 34

O VAMPIRO(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 7

O ESTRANHO

Pág 34


Trajava-se sempre com o mesmo paletó comprido escuro, e usava um chapéu de feltro de aba erguida ligeiramente para cima, e era por ali por debaixo que aqueles dois olhos quase faiscantes erguiam-se a mirá-la no mais enigmático silêncio.

Mais tarde, a apresentação de "O parto da Adolescência" chegou ao seu desfecho, e receberam os artistas o mesmo caloroso aplauso de sempre por parte do público. Então, os atores e atrizes agradeceram, e retiraram-se graciosamente para os seus camarins. E a jovem Simone então esqueceu-se de vez do espectador bizarro. Mas voltou a preocupar-se com aquela que era o seu ídolo maior, a sua companheira atriz Lúcia Garbo.

Assim, tão logo mudou de roupa outra vez, dirigiu-se apressadamente para o camarim exclusivo da estrela. Havia na porta o cartaz: "Em reunião. Favor retornar em outra ocasião." - cartaz que Lúcia Garbo sempre colocava ali quando não queria ser absolutamente incomodada por ninguém que não conhecesse. A jovem Simone abriu cautelosamente a porta, e espiou primeiro sorrateiramente para dentro. A atriz ainda estava com as vestes do espetáculo, e estava deitada sobre aquela sua cama oportuna que usava sempre que queria estar a sós. A jovem Simone umedeceu a boca, e soprou com timidez:

- Lúcia Garbo.

Lúcia Garbo espiou por debaixo do antebraço direito, o qual cobria parte de seu rosto. E disse:

- Entre Simone. Entre de uma vez.

- Como está, Lúcia - indagou com ar de preocupação. Quando Lúcia Garbo descobriu o rosto, viu que ela voltara a mesma palidez horrível de antes do espetáculo. Estava com os lábios brancos e com os olhos ensombrecidos.


Pág 34

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O VAMPIRO A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES PÁG 33

O VAMPIRO(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 7

O ESTRANHO

Pág 33



- Além do mais - piscou-lhe um olho Lúcia Garbo, passando-lhe um braço ao redor do ombro - quando as luzes do palco se acendem, eu não sou mais eu. Você ainda vai ver que há uma energia mágica ali e que nenhum de nós nunca se sente doente enquanto está lá. Vamos?


- Vamos - murmurou com um suspiro a jovem Simone.


Mas...pensou a jovem Simone, quando já estavam em cena há cerca de vinte minutos - não é que Lúcia Garbo tinha mesmo razão? A grande atriz, em primeiro plano no palco, era a própria imagem da galhofa e do contetamento. As faces, antes esmaecidas, traziam agora os tons do carmim. Os lábios voltaram a estar corados. Apenas os olhos mantinham o mesmo brilho de sempre.


E o público acompanhava-a com os olhos magnetizados, completamente sedentos de sua presença. E atentos ao mais tênue gesto que a estrela esboçasse.


E...por falar nisso, isto é, em acompanhar com os olhos irrestritamente, a jovem Simone, que estava em cena em um plano secundário, sem diálogos ou ação cênica atuante, observou por um instante o mesmo fato curioso que já vinha ocorrendo com assiduidade há cerca de uns dez dias de apresentações: o mesmo expectador - e sempre na mesma primeira fila das cadeiras - que não retirava os olhos de cima dela por sequer um único instante.


Estava ela em cena e, se por uma centelha de segundo volvesse os olhos pela platéia, lá estavam os olhos dele completamente fixos sobre ela. Mais tarde um pouco, se estava atuando apenas coreograficamente , se porventura dirigisse o olhar para a platéia...lá estavam os olhos dele como que hipnotizados em sua direção. Se acaso saia de cena, e ficava por detrás dos bastidores um pouco...não é que lhe ocorria a curiosa impressão de que ele ainda estaria com os olhos pousados no último ponto onde sua presença eclipsou-se?




Pág 33

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 32

O VAMPIRO(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 7

O ESTRANHO

Pág 32


- Ufa - gemeu a jovem Simone. - Graças a Deus.

- O...quê?

- Nada - sorriu a jovem Simone. - É que está em cima da hora de começar. Ainda sou muito verde.

- Tolice. Eu mesma fico assim.

Lúcia Garbo já trocara de roupa, e colocara as vestes de seu personagem. Saiu rapidamente do toalete. Trouxe na mão esquerda uma toalha grande completamente encharcada de sangue.

- Você perdeu isso tudo?

- Eu acabara de me despir aqui no camarim, e ia tomar um jato morno, para relaxar. Então a menstruação explodiu. Desceu pelas pernas e só tive tempo mesmo de correr para o toalete. Mas já está tudo em ordem.

Agachou-se por um momento, e limpou a trilha de gotas rubras que ia até a entrada do toalete. Depois atirou a toalha em uma cesta de roupas sujas.

De passagem, deu uma rápida olhadela para o espelho cravejado de pequeninas luzes.

- Vamos?

- Você está muito pálida, Lúcia. Perdeu sangue de forma anormal. Precisa de um médico: não acha melhor que a gente peça para que se cancele esse espetáculo?

- Você está brincando! Ora, mas você só pode estar brincando, menina. Nós somos artistas, minha cara. O espetáculo sempre continua...nunca se esqueça disso...

- Perdoe-me. Mas...


Pág 32

domingo, 2 de janeiro de 2011

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 31

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora
1º Edição


PRIMEIRA PARTE


PAVOR E ÊXTASE


CAPÍTULO 6


TENSÃO

Pág 31


Em seguida, torceu nervosamente a maçaneta do toalete da atriz. Estava trancada. Engoliu em seco. Pôs-se a bater ali com toda a força com os punhos fechados.

- Lúcia Garbo...Lúcia Garbo! - gritou, a plenos pulmões.

Então uma voz sussurrante se fez ouvir.

- É você, Simone? - pausa - Está sozinha?

Ouviu-se o girar da fechadura. A porta abriu-se.

O rosto, extremamente pálido de Lúcia Garbo surgiu por uma brecha da porta. Tinha na fisionomia um ar de desconsolo.

-Metrorragia. - soprou - Nem deu tempo de segurar. Quando fico nervosa a minha menstruação desce como uma cachoeira.



***

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 30

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 6

TENSÃO

Pág 30


- Quantos minutos faltam?

- Faltam dez minutos. Tudo em ordem.

- Onde está Lúcia Garbo?

Todos estavam um pouco tensos, com a expectativa daqueles poucos minutos que antecediam ao espetáculo. Mas ninguém sabia ao certo. Alguém disse:

- Deve estar no camarim dela, terminando de colocar a roupa.

- Quem pode apressá-la? - indagou Bulotto, um pouco de tensão na voz.

- Eu chamo! - gritou a jovem Simone.

- Enfiou-se rapidamente pelos corredores que iam desembocar nos camarins. Já estava de noite. Mas ainda não estavam acesas as luzes dos corredores. Os corredores estavam escuros e densos. A jovem Simone sentiu-se como se estivesse, a cada vez mais, mergulhando em um mar de escuridão. Putsgrilo. Nunca reparara antes como aqueles corredores eram escuros e traiçoeiros. Esbarrou duas ou três vezes nas paredes frias, saiu palpando, com medo de encostar em algo, que não sabia o quê, a garganta seca, porque estava muito próximo da hora do espetáculo começar. Finalmente, como uma ilha nas trevas, avistou as luzes acesas e a porta completamente aberta do camarim de Lúcia Garbo.

Entrou. A porta do toalete ao fundo estava fechada, mas o interior do camarote de Lúcia Garbo estava vazio. A cama improvisada estava desfeita. Os demais objetos nos lugares de antes. Parou no centro do camarim, sentindo um desconforto estranho. Onde estaria Lúcia Garbo?

Foi então que, num estremecimento súbito de pavor, reparou na trilha formada por pequeninas gotas de sangue, ainda fresco, convergindo enfileiradas na direção do toalete.

No primeiro momento, suas pernas bambearam, seus olhos se arregalaram, e controlou a custo um grito de pânico.



Pág 30

domingo, 12 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 29

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio


ZMF Editora
1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 6

TENSÃO

Pág 29


- Ora bolas. Ponha "cravar os dentes". Fica muito mais elegante.

- Então, vamos, que já está ficando tarde.

- Cena oito, terceiro ato..., repetindo: " não há maneira nenhuma de você escapar de mim. Hei de cravar-lhe..., que tal?...hei de cravar-lhe os dentes, senhorita Ponce."

A jovem Simone remexeu-se um pouco na sua posição de ioga, e olhou de relance para o miúdo rasgo de céu.

- Ótimo. Que horas são?

- Dez para as cinco. Vamos à cena dez agora?

- Você entra agora, bebêzinho. O seu enxerto é um enxertozinho de nada.

- Perdão - falou a jovem Simone, estremecendo - estava falando comigo?

- Putsgrilo. Eu não falei...que hoje está todo o mundo parecendo zumbis?

A jovem Simone estremeceu de novo. Meia hora depois, terminaram de repassar todos os enxertos. Bulotto reuniu todo o Grupo no centro do palco e começou a transmitir-lhe instruções. Adorava falar, e, ficou tão embevecido falando, que, dentro de mais algum tempo, por detrás das cortinas fechadas, observaram as grandes luzes do enorme teatro serem acesas. E ouviram o som do público que começava a entrar.

- Putsgrilo. A galera chegou. Não deu para eu falar nem a metade do que eu tinha para falar a vocês.

- Para o inferno, Bulotto. Você pensa que a gente é de ferro?

- Olhe...apagaram a luz do palco, para a galera entrar. Agora vamos dar o fora daqui mesmo.

Saíram, em meio a penumbra, e foram ocupando seus postos detrás da coxia. Bulotto disse:


Pág 29

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 28

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 6

TENSÃO

Pág 28



- Hoje a noite vai ser de lua cheia - disse Bulotto, olhando do palco pela fresta de uma janelinha lateral existente naquele ponto da imensa abóboda superior do enorme recinto.

- Quem eu amor vem me ver - brincou Sonia Álvares. Bulotto deu um suspiro.

Sonia Álvares recolocou a cartola.

Júlia Araujo olhou de relance para o rasgo de céu.

Sonia Álvares entrou em cena e disse: "senhoras e senhores..."

A jovem Simone sentou-se no chão para assistir à cena, e remexeu a cintura um pouco inquietamente . Depois procurou acompanhar a evolução dos diálogos através do texto completo que tinha às mãos.

Nunca aguardara com tal ansiedade a sua vez de entrar.

Bulotto cortou mais adiante a cena, após um par de repetições. Depois disse:

- Agora aquela cena engraçada que o Ernesto improvisou.

- Ah, sim - falou o Ernesto. - Eu disse: "hei de pôr-lhe os dentes em cima, senhorita Ponce..."

- Não. Você disse: "hei de cravar-lhe os dentes".

- "Pôr-lhe os dentes" ninguém vai entender. Fica quadrado.

- Mas entenderam e riram da primeira vez, com os gestos que fiz.



Pág 28