quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 30

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 6

TENSÃO

Pág 30


- Quantos minutos faltam?

- Faltam dez minutos. Tudo em ordem.

- Onde está Lúcia Garbo?

Todos estavam um pouco tensos, com a expectativa daqueles poucos minutos que antecediam ao espetáculo. Mas ninguém sabia ao certo. Alguém disse:

- Deve estar no camarim dela, terminando de colocar a roupa.

- Quem pode apressá-la? - indagou Bulotto, um pouco de tensão na voz.

- Eu chamo! - gritou a jovem Simone.

- Enfiou-se rapidamente pelos corredores que iam desembocar nos camarins. Já estava de noite. Mas ainda não estavam acesas as luzes dos corredores. Os corredores estavam escuros e densos. A jovem Simone sentiu-se como se estivesse, a cada vez mais, mergulhando em um mar de escuridão. Putsgrilo. Nunca reparara antes como aqueles corredores eram escuros e traiçoeiros. Esbarrou duas ou três vezes nas paredes frias, saiu palpando, com medo de encostar em algo, que não sabia o quê, a garganta seca, porque estava muito próximo da hora do espetáculo começar. Finalmente, como uma ilha nas trevas, avistou as luzes acesas e a porta completamente aberta do camarim de Lúcia Garbo.

Entrou. A porta do toalete ao fundo estava fechada, mas o interior do camarote de Lúcia Garbo estava vazio. A cama improvisada estava desfeita. Os demais objetos nos lugares de antes. Parou no centro do camarim, sentindo um desconforto estranho. Onde estaria Lúcia Garbo?

Foi então que, num estremecimento súbito de pavor, reparou na trilha formada por pequeninas gotas de sangue, ainda fresco, convergindo enfileiradas na direção do toalete.

No primeiro momento, suas pernas bambearam, seus olhos se arregalaram, e controlou a custo um grito de pânico.



Pág 30

domingo, 12 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 29

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio


ZMF Editora
1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 6

TENSÃO

Pág 29


- Ora bolas. Ponha "cravar os dentes". Fica muito mais elegante.

- Então, vamos, que já está ficando tarde.

- Cena oito, terceiro ato..., repetindo: " não há maneira nenhuma de você escapar de mim. Hei de cravar-lhe..., que tal?...hei de cravar-lhe os dentes, senhorita Ponce."

A jovem Simone remexeu-se um pouco na sua posição de ioga, e olhou de relance para o miúdo rasgo de céu.

- Ótimo. Que horas são?

- Dez para as cinco. Vamos à cena dez agora?

- Você entra agora, bebêzinho. O seu enxerto é um enxertozinho de nada.

- Perdão - falou a jovem Simone, estremecendo - estava falando comigo?

- Putsgrilo. Eu não falei...que hoje está todo o mundo parecendo zumbis?

A jovem Simone estremeceu de novo. Meia hora depois, terminaram de repassar todos os enxertos. Bulotto reuniu todo o Grupo no centro do palco e começou a transmitir-lhe instruções. Adorava falar, e, ficou tão embevecido falando, que, dentro de mais algum tempo, por detrás das cortinas fechadas, observaram as grandes luzes do enorme teatro serem acesas. E ouviram o som do público que começava a entrar.

- Putsgrilo. A galera chegou. Não deu para eu falar nem a metade do que eu tinha para falar a vocês.

- Para o inferno, Bulotto. Você pensa que a gente é de ferro?

- Olhe...apagaram a luz do palco, para a galera entrar. Agora vamos dar o fora daqui mesmo.

Saíram, em meio a penumbra, e foram ocupando seus postos detrás da coxia. Bulotto disse:


Pág 29

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 28

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 6

TENSÃO

Pág 28



- Hoje a noite vai ser de lua cheia - disse Bulotto, olhando do palco pela fresta de uma janelinha lateral existente naquele ponto da imensa abóboda superior do enorme recinto.

- Quem eu amor vem me ver - brincou Sonia Álvares. Bulotto deu um suspiro.

Sonia Álvares recolocou a cartola.

Júlia Araujo olhou de relance para o rasgo de céu.

Sonia Álvares entrou em cena e disse: "senhoras e senhores..."

A jovem Simone sentou-se no chão para assistir à cena, e remexeu a cintura um pouco inquietamente . Depois procurou acompanhar a evolução dos diálogos através do texto completo que tinha às mãos.

Nunca aguardara com tal ansiedade a sua vez de entrar.

Bulotto cortou mais adiante a cena, após um par de repetições. Depois disse:

- Agora aquela cena engraçada que o Ernesto improvisou.

- Ah, sim - falou o Ernesto. - Eu disse: "hei de pôr-lhe os dentes em cima, senhorita Ponce..."

- Não. Você disse: "hei de cravar-lhe os dentes".

- "Pôr-lhe os dentes" ninguém vai entender. Fica quadrado.

- Mas entenderam e riram da primeira vez, com os gestos que fiz.



Pág 28

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 27

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 27

E, quando ficou completamente sozinha no camarim enorme, a estrela voltou o rosto na direção da parede, e, completamente entregue ao desalento, deu de ombros, enxugou uma lágrima, e...ficou à espera de sua hora chegar...


***

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 26

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 26


...de narradora da peça, e trazia a cartola presa pela aba no cinto que tinha à cintura.
Lúcia Garbo trocou um olhar significativo com a jovem Simone para que esta interrompesse a conversa que estavam tendo. A jovem Simone compreendeu que ela não queria de forma alguma preocupar os seus amigos do peito, sobretudo agora, que estavam próximos da hora de iniciar o espetáculo.
- Oi amigos e amigas - disse-lhes a jovem Simone.
- Oi, bebezinho - replicou-lhe Bulotto, o lider do Grupo, com um sorriso irônico. - Julgamos que não viera. Já íamos mandar o ônibus do Jardim de Infância para apanhá-la em casa.
Bebezinho era o modo implicante com que ele tratava a jovem Simone.
- Pedi à Simone que me desse a opinião sobre o novo texto que pretendemos levar - disse Lúcia Garbo - Há um papel ali que tem tudo a ver com ela.
- Vamos ensaiar os enxertos? aparteou Aírton, que interpretava um dos papéis mais longos da peça. - Tenho quase dez frases novas para repassar. Vamos?
- Vá logo mudar de roupa, bebezinho - arrematou Bulotto. - Assim a gente já ganha tempo se por acaso passar da hora e o público chegar.
- Eu não vou trocar de roupa agora e nem vou ensaiar os enxertos - disse-lhes Lúcia Garbo - estou morrendo de dor de cabeça e vou ficar aqui deitada no camarim até a hora do espetáculo. Senão, não vou conseguir entrar na hora.
- Ok, Garbo - disse-lhe Bulotto com uma piscadela e um levantar de ombros. Também...ensaiar o quê? No seu papel você não gosta mesmo de mexer em nada, nunca.
- E estamos conversados - sorriu-lhes Lúcia Garbo, passando a mão pela testa e em seguida deitando-se a todo comprimento na cama superconfortável que havia no seu camarim.


Pág 26

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 25

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 25
- E...como é o seu pai?
- Meu pai, juro, nem parece um homem rico. É simples demais. Criou já inúmeros tipos de ajuda aos empregados dele.
- Mas... - sussurrou a jovem Simone.
- Mas...ainda assim ele é um homem enormemente rico.
- Será que o vampiro sabe disso? - consolou-a Simone.
- O danado do vampiro sabe de todas as coisas - sentenciou Lúcia Garbo.
- Puxa. E você, por sua vez, me parece uma super especialista em vampiros.
- Depois de dezoito casos terríveis...aliás, dezenove, com o de ontem à noite, a gente é capaz de até identificar um vampiro que surgir na nossa frente com uma batina de sacristão.
- E... - sugeriu de súbito a jovem Simone, estalando os dedos - e se você contratasse uns dois seguranças bem musculosos para acompanhá-la para toda a parte?
A grande estrela deu o mais longo suspiro do mundo.
- De vampiros você realmente não entende nada. Ontem, no palácio do governador, havia nada menos que uma guarnição inteira. E o vampiro zombou de todos eles e bebeu meio litro de sangue do pescoço da filha do governador.
- Meu Deus - estremeceu a jovem Simone. - eu nunca pensei que eu estivesse tão alienada.
Nesse exato momento, surgiram à porta os outros artistas. Vinham conversando animadamente, e foram entrando pelo camarim adentro sem a menor cerimônia. Já estavam todos de roupa trocada.
- Oi, Garbo - disse-lhe Sonia Álvares, ajeitando diante do espelho a gola dura da indumentária faiscante. Fazia o papel...
Pág 25

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 24

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 24


Num gesto superamistoso ensaiou um passo de dança com a companheira.
- E o terceiro requisito é a vítima ter um pai absurdamente rico.
Simome parou de dançar. Saltou-lhe davagarinho o braço. Recuou um ou dois passos. Disse:
- Mas...o seu pai...
- O meu pai é absurdamente rico - balbuciou Lúcia Garbo, sentando-se, e apoiando o rosto em uma das mãos, num gesto desconsolado.
A jovem Simone curvou-se sobre ela...
- Mas... - Murmurou lentamente - Os jornais todos que sempre li a seu respeito...
- ...dizem que eu comecei do nada - atalhou a estrela.
- Sim. Dizem exatamente isso.
- Os jornais sempre dizem o que lhes convêm. Ademais, os jornais e as revistas nunca poderiam saber mesmo. Eu fugi de casa quando tinha exatamente dez anos de idade para a casa de uma tia paupérrima, considerada meio lelé da cuca pelo resto da família. Imagine...era pobre somente porque queria, embora todos da família quisessem sempre ajudá-la. Ela amava gatos e me amou também. Foi ela quem me atirou para esta vida de sonho. Nunca mencionei nada aos jornalistas sobre os meus verdadeiros pais.
A jovem Simone sentou-se outra vez, também. Indagou-lhe:
- E...seus verdadeiros pais? Como são eles?
- São ótimos. tinham de hesitante apenas esse preconceito tolo, com relação à arte. Mas foram o suficiente generosos para nunca interferirem. Quando deu certo eles passaram a dar-me a maior força do mundo. Mas meu pai e eu achamos melhor que nunca divulgássemos que eu era filha de um industrial tão poderoso como ele é.


Pág 24

domingo, 5 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 23


O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora
1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 23

- Eu preencho todos os requisitos do que o vampiro procura. E ainda, para complicar, o meu nome, pelo fato de eu ser conhecida em todo esse bendito país, só faz chamar muitíssimo mais a atenção sobre mim. Se eu não der o fora imediatamente do país estou completamente liquidada.
- E você pensa em sair?
- Não.
Lúcia Garbo torceu as mãos nervosamente. A jovem Simone sentiu as lágrimas aflorarem-lhe ao rosto. Fungou uma ou duas vezes e depois, num impulso, correu a abraçar-se fortemente com a estrela. Apertou-a, com força nos braços. esfregou o nariz no ombro do vestido da companheira. Depois, ergueu-se junto a um de seus ouvidos, e indagou, com muito tato:
- E...quais são esses requisitos?
- Você não tem acompanhado os casos?
- Os requisitos são, pelo que entendi, em número de três. O primeiro deles...
- Sim?
- O primeiro deles - suspirou Lúcia Garbo - é ser-se filha ou filho único.
- Mas eu também sou filha única - confortou-a vivamente Simone.
- Espere. O segundo dos requisitos...
Fez uma pausa penosa. Depois disse:
- O segundo requisito é você ser adolescente.
- Não se esqueça que sou muito mais adolescente que você - gritou animadamente a jovem Simone. E meu Deus, há milhares e milhares de adolescentes por esse paisão afora. O vampiro vai ter de se estafar muito para encontrá-la!


Pág 23

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 22

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 5

MEDO

Pág 22


- Você...o quê? - Indagou Simone arregalando os olhos.
- Serei uma das próximas...talvez até, quem sabe, a próxima vítima do vampiro - esboçou um sorriso forçado de frieza, a estrela.
- Você...está brincando - a jovem simone curvou o rosto na direção dela, e fez menção de sorrir também.
Lúcia Garbo meneou tristemente o rosto.
- Nunca falei mais sério em toda minha vida.
A jovem Simone pareceia ter levado um murro no centro da nuca. Ficou alguns momentos olhando para ela de modo imbecil. Depois, sorriu mesmo.
- Mas isso é um absurdo, Lúcia. Isso não tem sentido. Não tem qualquer relação isso com a realidade.
Lúcia Garbo deu de ombros. Ergueu-se lentamente, e pôs-se a andar de um lado para o outro do camarim. Mirou-se por um momento no espelho cravejado de luzes minúsculas. Depois, após um prolongado suspiro, disse:
- Eu tenho pensado incessantemente sobre esse pérfido assunto. E...a cada nova vítima, só consigo perceber as minhas chances aumentarem e aumentarem. Simone. Para falar a verdade, ainda não compreendo por que ainda não chegou a minha vez.
A jovem Simone deu uma olhada na manchete escandalosa do jornal (escrita em letras vermelhas). Sentiu um arrepio miserável no fundo do coração. Engoliu em seco. Murmurou:
- Mas..por quê? Por que. Lúcia?


Pág 22

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 21

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

PRIMEIRA PARTE

PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 4

LÚCIA GARBO

Pág 21


...Posso confiar que não contará nada jamais a ninguém?
A novata estremeceu novamente emocionada.
- Puxa...Lúcia Garbo. Claro que não contaria nada a niguém. Juro. Juro Por Deus. Acho que eu nem precisava jurar. Preferia morrer a trair o que lhe dissesse.
Lúcia Garbo respirou fundo. Então estendeu-lhe a página de jornal que estava lendo:
O sobressalto que eu tive...o pânico...quando voc~e entrou de surpresa...é por causa disso.
Simone leu e franziu a testa.
- O...vampiro? - exclamou de pronto. - Você está com medo...por causa...de um vampiro?
- Não é um medo tolo qualquer - replicou Lúcia Garbo.
- Sei que não. Mas...
- Quer saber, senhorita, a razão do meu medo?
- Sim.
- Eu tenho certeza, Simone, de que eu serei uma das suas próximas vítimas.


Pág 21
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