domingo, 31 de outubro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 4


O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição


PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 1

Os Artistas

Pág. 4

Os militares todos olham curiosamente para o grande ajuntamento de pessoas no centro da praça. E então, num determinado momento, o coronel Caio Célio, o terrivelmente enérgico homem que comanda a tropa, estica por um instante o braço para adiante e diz:
- Ei, mas não é Lúcia Garbo que está lá no meio da praça?
- Estão aí todos os dias - replicou o subcomandante Valdo, - Lúcia Garbo e todos os outros. O senhor não sabe, coronel, porque este é o seu primeiro dia de comando aqui. Mas é difícil o dia em que não aparecem.
O comandante Caio Célio piscou nervosamente as sobrancelhas:
- Santo do céu...não posso perder de jeito nenhum esta oportunidade.
O subcomandante Valdo franziu a testa.
- O senhor disse "oportunidade", meu comandante?
- Claro. Oportunidade, eu disse. O autógrafo de Lúcia Garbo. O meu filho Breno é maníaco por ela. Vai me matar se souber que estive face a face com Lúcia Garbo e não lhe solicitei o seu autógrafo.
O subcomandante esboçou um leve sorriso. Disse:
- Esses garotos! Bem, meu comandante...e esta é a melhor hora, se realmente quer conseguir um autógrafo. É quando eles param de matraquear e descem do palanque para conversar com o público.
O comandante Caio Célio retirou por um momento o quépi, e alisou os cabelos.
- Eu vou lá...eu vou lá - disse, com a respiração um pouco ofegante. - Não posso desperdiçar esta chance.
-O senhor quer que eu peça para estacionarem o caminhão um pouco enquanto o senhor vai até lá?

Pág. 4

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 3



O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição


PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 1

Os Artistas

Pág. 3

Deram por dois meses todas as apresentações, e dedicaram-se ao trabalho colossal de escolher a nova segunda estrela.
Inscreveram-se mil candidatas! Mil meninas adolescentes que ansiavam mais do que tudo nesta vida em preencherem a própria pele com as vestimentas de sonho que um dia haviam preenchido o corpo esbelto de
Sara Duarte. A disputa foi dificílima, num campo onde não havia o mais ténue espaço para o favorecimento e a protecção. Durou um mês inteiro a disputa E os testes iam desde a cultura geral, ao ballet, ao canto, a arte dramática e, ao invulgar domínio da emoção e do transporte - transcendente - do próximo à emoção.
A vencedora, por um voto de diferença , foi uma tal de Simone. Tinha catorze anos de idade somente, e era aluna da oitava série de um colégio tradicional. Durante um mês extenuante decorou todo o seu papel, e, um mês mais, incorporou-se ao grupo na nova estreia. A nova estreia foi muito boa. E assim, a vida recomeçou a circular no palco para aquele grupo intensamente competente e talentoso.
No momento exacto em que a nossa história se inicia, os artistas não estão em cena, em O Parto da Adolescência, Os artistas estão na praça, e, embora por um receio natural que há na espécie humana, não acusem a ninguém em particular, estão a clamar ao governo e a todos que os ouvem, por justiça e pelo fim das terríveis impunidades.
A praça onde os artistas protestam é a praça que circunda todo o Palácio do Governo. Estão lá há três meses já. Acabam de exactamente neste momento encerrarem os discursos de indignação, e então descem do palanque para conversarem com o público que os ouve em torno. E é também exactamente neste momento que o caminhão militar dos carabineiros que vêm revezar os seus colegas de serviço no palácio do Governo começa a contornar a primeira quadra da praça.

Pág. 3

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

LIVRO O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES) PÁG 2


O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição


PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 1

Os Artistas

Pág. 2

então na empreitada de levar o assassino ao tribunal. Para encurtar: depois de meses de veladas ameaças anônimas, o carro do juiz Brant explodiu no meio da rua, em pleno centro da cidade.
Vocês sabem quem era a filha do juiz Brant? Era nada menos que Sara Duarte, a atriz dos jovens , a atriz número dois do país, uma senhorita de dezoito anos de idade que se transformara em poucos momentos na paixão inequívoca de todos os adolescentes. Ela foi para televisão e, sempre que não a impediam, passou a acusar sistematicamente o senhor Lopes Antoniano de traficante e impune assassino. A televisão cortou-lhe os contratos. E, após ter escapado uma vez da terrível investida de um desconhecido quando retornava do trabalho no teatro, foi duramente convencida por sua mãe viúva a largar de vez aquele país. Foi assim que Sara Duarte partiu.
Foi assim que as novelas e o teatro perderam para sempre a musa incondicional dos adolescentes.
O caso Brant, logo cairia no esquecimento também, como tão frequente o era de ocorrerem as coisas naquele velho país.
Mas, desta feita, quando Sara Duarte partiu, os artistas do seu grupo de teatro - despertados de súbito por alguma força interior que sequer compreendiam - saíram para a rua para revezarem a companheira.
Simultaneamente, organizaram um grande concurso para escolherem quem seria a grande substituta de Sara Duarte no elenco. Ora, a peça de teatro deles, denominada O Parto da Adolescência, iria completar em breve três anos sucessivos em cartaz. Três anos de um sucesso tão retumbante, que lotavam diariamente o grande teatro onde se apresentavam. E o papel de Sara Duarte era difícil e trabalhoso. Assim, suspen-

Pág. 2

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O VAMPIRO (A BÍBLIA DOS ADOLESCENTES)

O VAMPIRO
(A Bíblia dos adolescentes)
Alcio

ZMF Editora

1º Edição

1996

Capa:
Criação e arte final
Guilherme

Revisão
o autor

Alcio
O Vampiro
320 páginas
Títulos
Romance Brasileiro 1996

À Gaya Natasha minha filhinha,

1º Parte: PAVOR E ÊXTASE
2º Parte: A CONSCIÊNCIA E O AMOR

PRIMEIRA PARTE
PAVOR E ÊXTASE

CAPÍTULO 1

Os Artistas

Ah, o dom de voar. No planeta Terra, na espécie humana, o dom de voar restringe-se aos artistas e aos apaixonados. Os apaixonados - sabe-se há milênios - tal como o ouro e a beleza, estão donde a gente os encontra. E, por enquanto, não sei onde eles estão neste momento. Mas os artistas, sei. Os artistas estão neste momento na praça, entrincheirados em um palanque improvisado, clamando por dignidade e justiça.
Os artistas encontram-se diariamente naquela mesma praça, nos seus horários disponíveis, há três meses, desde que caiu no esquecimento de vez o abominável caso Brant. Vou resumir-lhes, em poucas palavras, para que vocês não o esqueçam também.
O juiz Mário Brant era um homem profundamente bom. Uma noite, voltando de uma recepção onde fora o patrono, assistiu, por infelicidade, na porta de um clube luxuoso, um homem ser assassinado. O homem que o assassinou, facilmente se pôde constatar, era uma pessoa graúda na cidade. Mas, não era um graúdo qualquer. Era o maior traficante de tóxicos do país, o que todo mundo sabia, mas mantinha em torno de si uma auréola de respeitabilidade e influência até mesmo nos primeiros escalões da sociedade, através de amizades importantes e negócios de fachada. Ora, o homem entrou tranquilamente em seu automóvel, e desapareceu. Outras pessoas também presenciaram o crime, e aconselharam vivamente o juiz Brant para que não se intrometesse. Mas ele era um homem de verdade, profundo amante da justiça e da verdade, era de juiz de Direito há vinte anos. Meteu-se a fundo

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